15 de setembro de 2011

A tal da culpa…

"Não culpe os outros por seu fracasso de ser totalmente responsável por sua própria vida. Se os outros são culpados então você deu a eles o controle." 
Bob Perks







Eu gosto da culpa
Ela é um elemento fundamental para nossa vida em sociedade. A culpa serve para trazer a responsabilidade de nossas vidas para nossas mãos.
Ninguém gosta muito de senti-la, e por isso pensamos que o mundo seria bem melhor sem ela. Engano terrível! Como a maior parte dos sentimentos negativos, a culpa tem sua função e seu valor. E quando bem usada torna-se uma grande aliada.
Nos sentimos culpados por aquilo que fizemos de errado – e isso dificulta que no futuro o mesmo erro seja cometido – e também nos culpamos por aquilo que não fizemos ou que poderíamos ter feito melhor – “me cuidei pouco, trabalhei pouco, poderia ter me dedicado mais à família” e por aí vai. Essa culpa quase inata – de que poderíamos ter feito mais e melhor é muito comum à quase todos os seres humanos. Eu digo quase todos porque existem algumas patologias mentais em que o indivíduo não conhece esse sentimento tão comum que nos atormenta diariamente. Os psicopatas não a sentem por exemplo…
Ok, agora que já falei bem da culpa, quero chamar a atenção para os casos aonde ela não é bem empregada. Sabemos que é muito bom chamar para si a responsabilidade de coisas que poderiam ter sido atribuídas ao acaso – isso nos dá condições de mudar o próprio destino. Mas também existem pessoas que passaram do ponto da culpa saudável: aquelas que sentem-se responsáveis por coisas que fogem completamente ao seu controle. “O eterno culpado”.
O eterno culpado passa quase uma impressão de ser um coitado, muito responsável e humilde. Mas o que pode se esconder atrás de alguém que se sente (negativamente) responsável por coisas maiores do que seu alcance? O que me vem a cabeça é uma inflação, um senso deturpado de grandeza, quase como se fosse alguém muito poderoso com uma grande dificuldade de saber qual é seu tamanho e sua influência no mundo. Da mesma forma que é patológico sentir pouca ou nenhuma culpa também o é senti-la em excesso.
Quando olhamos para o psicopata vemos em sua consciência alguém que se acha no direito de receber do mundo aquilo que lhe é devido. Quando olhamos para o culpado eterno vemos alguém que se acha no dever de salvar o mundo simplesmente por se sentir um ser superior em algum canto de seu psiquismo.
Saber nosso próprio valor (e nosso próprio tamanho) não é tarefa fácil. Quando temos isso a culpa vem para nos ajudar a desenvolver as potencialidades que temos dentro de nós e que estão ao nosso alcance: amar mais, ajudar mais, cuidar mais, errar  menos, julgar menos, e por aí vai…
(Ana Luisa Testa, psicóloga)

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