O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem.
Antoine de Saint Exupéry
Como
explicar o amor? Os poetas tentam exprimi-lo em palavras, as canções
tentam traduzir seu sentido e os loucos pensam que conhecem seus
mistérios. Alguns o buscam incansavelmente, outros fogem dele,
assustados. Muitos o tem como um tesouro mais precioso, enquanto outros
carregam as amargas cicatrizes por tê-lo perdido pelo caminho... mas,
como explicar esse sentimento que nasce
no peito da gente num estampido furtivo, numa explosão calma e
invisível, que nos transforma a todos? Que transforma o mais valente em
fraco e que enche de coragem o coração do mais covarde? Que transforma o
mais honesto em mentiroso e que enche de compreensão o coração do mais
selvagem? Que transforma trevas em luzes, desertos em jardins floridos?
Como explicar esse sentimento atrevido, que nos invade, fazendo nosso
corpo tremer sem ter frio, nosso coração disparar sem motivo, nossas
mãos suarem, nossos olhos brilharem, toda vez que a gente vê aquela
pessoa à nossa frente? Aquela pessoa! Que poderes tem aquela pessoa, um
simples mortal como eu, mas que é mais do que qualquer pessoa? Aquela
pessoa é o próprio instrumento do amor, creio. Como explicar?
E por
que o amor dói dentro da gente? Por que será que, muitas vezes, ele nos
aflige, nos afugenta, nos acorrenta, nos escraviza? Por que queima? Essa
chama que não vemos, que corrói e não sabemos onde? Nossa alma? Nosso
corpo? E onde é o começo dele e o fim? Sabemos? Onde está o irremediável
segundo em que nos entregamos a ele? Em que momento, exatamente, nos
deixamos cegar por ele? Como e quando nos deixamos atrair, indefesos,
pelas suas garras magnéticas? Seria possível, ao mais intelectual, ao
mais racional, ao mais insensível e ao mais cruel dos seres conseguir se
desvencilhar das garras do amor, no momento fatal em que ele ataca?
O amor escraviza e... liberta! Te liberta para conhecer o outro lado.
Te liberta para ver a beleza de tudo ao redor. Te liberta para ser
feliz, daquela felicidade singela e pura, que é a felicidade de ser...
simplesmente ser! Te faz sorrir, sonhar, esperar, cantar, e sua força é
tanta, que a vontade é extravasar, dividir, gritar aos quatro ventos que
ama, como se o amor nos fizesse orgulhosos de amar...
Aos que são
mais comedidos, o amor se apresenta sorrateiro e ele tem os seus
disfarces. Aos mais afoitos, ele vem transparente, claro, como uma onda,
como um abraço. Aos temerosos, ele se chega manso, terno. O fato é que
ele sempre vem, infalivelmente, e te pega de jeito, prega a peça, te
encurrala e te apanha. De nada valem os protestos, a indignação, a
contradição, a contra-posição... de nada adianta! Ele te apanha e te
embala em seus braços, ele te apanha e te hipnotiza, ele te apanha e te
cobre de ouro.
A Lua aproxima os corações que amam, o Sol aquece
suas intenções, as estrelas refletem seus gemidos silenciosos. O mar
deixa de ser grande, as montanhas deixam de ser intransponíveis, o
infinito deixa de se perder na imensidão... por causa do amor. Como
explicar essa grandeza? Como entender?
Seria o amor, uma porção
menor de Deus dentro de nós mesmos? Seria como uma herança divina,
abençoada, sagrada? Seria o amor exatamente o que precisamos para nos
tornar dignos de um perdão? Dignos de uma absolvição qualquer? Dignos de
uma eternidade? Seria o amor a peça que nos falta para entender tudo o
que não entendemos? O bálsamo para as feridas? O exato refúgio de nossos
pecados? O preciso alívio das desventuras? O que seria o amor, então?
E quantas formas ele tem? De quantas maneiras podemos amar? Quantas
vezes tropeçaremos nele? Quantas pessoas no vasto mundo podem deter a
força que o move dentro da gente? Quantas faces pode o amor ter? Muitas,
eu diria. Muitas faces, muitas possibilidades, caminhos diversos,
gerados do mesmo princípio cósmico: o amor!
Quisera eu pudesse
entender a sua essência, quisera eu pudesse dominá-lo em suas
profundezas, quisera eu pudesse saber a fórmula matemática perfeita que o
ativa e o desativa, sua química, sua física, sua lógica! Quisera eu
pudesse livrar do sofrimento aqueles que amam sem ser correspondidos,
aqueles que amam e esperam, aqueles que amam à distância, aqueles que
amam quem já se foi e até mesmo aqueles que nunca amaram... Quisera eu
pudesse, mas não posso, afinal, não sou, eu mesmo, uma de suas vítimas?
Sou um simples mortal à procura de respostas. Fisgado e acorrentado aos
mistérios do amor. Que sustenta sua leveza, que o acomoda dentro do
peito, que o assiste, implacável. Sou apenas um ser que ama, sem saber
explicar ao certo, o que vem a ser esse sentimento meu, íntimo em meus
pensamentos, presente em meus gestos e palavras. Um sentimento tão meu e
tão fora de meu controle. Um mal desejado, doença sem remédio, veneno
sem antídoto, mas desejado pelo bem que me faz...
(Autor desconhecido)
Nenhum comentário:
Postar um comentário