20 de fevereiro de 2011

Triste fim.



Muita gente diz que eu sou excessivamente nostálgico, extremamente saudosista, que minhas crônicas se alimentam do passado. Que o que escrevo só interessa a quem tem mais de... 40 anos? 45? OK, 50. 

Não chego a me ofender. Um jornal grande como O GLOBO, com um público leitor tão diversificado, tem que ter mesmo um cantinho para cada um. Na área dos cronistas, imagino que existam aqueles que agradam aos interessados em política, aos que preferem ler sobre música, aos que gostam de televisão, aos que procuram comentários sobre economia... Consequentemente, precisa haver o cronista que se dirige a adolescentes, o que atinge mais os universitários, o que agrada aos balzaquianos, os preferidos dos quarentões... Por que não um cronista que se dirige ao leitor de meia idade ou ao leitor da terceira idade? 

Mesmo assim, não é essa a minha intenção. Adoro encontrar contemporâneos que dizem se identificar com o que escrevo e até gente mais velha que eu que também aprecia meus escritos. Mas o que mais me estimula é encontrar gente mais nova, adolescentes, a garotada que, por uma razão ou outra, também se interessa pelas minhas colunas. 

Por isso, tento diversificar. Se permaneço nostálgico, saudosista, se volto ao passado, é por que o noticário me leva a isso. Esta semana, por exemplo, estava com a mais sólida intenção de falar o que é considerado sério. Depois de dedicar a coluna do último domingo a lembranças do meu tempo (me $do hully gully, do babaú maumau...), minha ideia era falar, por exemplo, de economia. Mas, ao mergulhar nas páginas de Economia do jornal, o que encontro? A Esso foi comprada pela Shell, ou coisa parecida, e sua marca vai desaparecer dos postos de gasolina do país. 

Como é que é? Não vai ter mais Esso? E como ficam os beijos que eram iluminados, no alto do céu do Rio, pela lua oval da Esso na paisagem útil de Caetano? Nunca mais? E as gotinhas da propaganda que, acompanhadas por um violão bossa nova, cantavam “Só Esso dá ao seu carro o máximo/ Vejam o que Esso faz”). Ou passeavam de lambreta para vender o “Novo Esso 2-T Motor Oil”? Só vão existir no Mercado Livre, onde um boneco de plástico reproduzindo a gotinha do sexo masculino chegar a valer quase R$ 400? E “o seu Repórter Esso”, que, para a geração da TV, era Gontijo Teodoro, para a turma do rádio, Heron Domingues? Nunca mais? 


Na minha busca por um tema que rendesse crônica, soube que o PIB brasileiro cresceu, que aumentou a entrada de dólares no país, que a inflação desacelerou. Mas só me chamou a atenção o fim da Esso. 

A lua oval faz parte da paisagem do país na minha infância. Ela existia nos postos de gasolina de brinquedo que eu ganhava de Natal. E é duro saber que, daqui para a frente, ela vai sair do mapa. 

Agora, me digam. Afinal, sou eu quem persegue a nostalgia ou é a nostalgia que me persegue?


Fonte: Blog do Xexéo

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